Admirar a escrita é meditar sobre ela!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Hoje, falo-te de mim!

Hoje, falo-te das noites brandas, como pontas de lápis afiados em pleno Agosto.
Hoje, falo-te também das manhãs coloridas de cinza, onde escasseia a alegria, num Dezembro, de curtos dias e longas noites.
Hoje, apetece-me falar-te de tudo o que vejo e sinto, de tudo o que vivo, e invento viver.
Olho o Céu, vejo apenas nuvens carregadas de lágrimas, prontas a mascararem o meu olhar, tal como a noite branda de finos e frágeis lápis de cera, aqueles que não pintavam mais os meus sonhos. Desfizeram-se nas madrugadas quentes, ausentes, onde as ramagens dos campos me envolveram em encantos e ternura.
 Deixei-me fundir com a natureza, porque só nela eu julguei encontrar a paz, que não se molda em fornos de ilusão.
Procurei ser terra seca, gretada, pasto brando em alta madrugada.
 Deitei-me com a terra entre calhaus e ervas daninhas, imaginei ser simples lagarta, lavrando-a com o meu ventre fino e já desventrado, pelo tempo em que nela rastejei.
Senti-me incompleta, queria sentir mais!
Queria agora ser árvore de grande porte, carvalho, sobreiro, azinheira ou mesmo cipreste, julgando ser possível alongar os meus braços ao infinito e com eles, poder ouvir o som dos meus gritos. Em vão…!
Consegui apenas ser arbusto de vedação, com meus brandos ramos ocultar, paredes escalavradas e falsas entradas.
Lancei-me então às águas de um rio, naveguei entre pedras, peixes, limo, lamas e lixo, detritos de supostos humanos imperfeitos. Perfeita desilusão!
Parei então, e deitei-me como gente, em terra ensopada de suor e lágrimas de uma vida que julgava ser em vão! Contemplei mais uma vez o céu. Agora, observo deleitada, um céu brilhando, sorrindo para mim… tão brilhante, que me obriga a cerrar os olhos. E de olhos cerrados, olho pela primeira vez para dentro de mim. Eis que, vejo dilacerada a sonhada lagarta, distante a árvore que não se alcança pelo topo, lamacento o rio onde não posso ser água límpida, seco o arbusto que não disfarça imperfeições a vida toda!
Esqueci-me de mim, das horas, quando abro os olhos já o sol se tinha ido deitar, dando lugar à brilhante e vigilante lua. Senti-me renascida e caminhei sozinha, no topo, de mim mesma!
Agora, pinto o meu Mundo com lápis afiados, brandos, duros, mas não gastos, observo o Céu com olhos de contemplação! …Mato medos e enterro pesadelos, vivo, com os pés bem assente na terra, e a alma num lugar iluminado. Aquele lugar onde um dia me hei-de envolver em eternidade!
 Sou feliz, por ser quem sou, não pelo que queria ser! Sou Mulher com muito para viver
*Lotus* 

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