Admirar a escrita é meditar sobre ela!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Carta ao Pôr-do-Sol


Naquele fim de tarde, de um dia de Janeiro, em que o pôr-do-sol se vestiu de mil cores, com um rigor festivo inigualável, desenhando no céu estradas, montes, rios, fontes, um mar de figuras abstractas, ao qual era impossível ficar indiferente, um céu quente, carregado de emoções e desafiando os amantes, os pintores, os poetas, a novas e belas sensações. Jamais morrerá na minha mente, aquele espantoso cenário. Que me aquecia a alma em paralelo com o calor dos nossos abraços.
Contemplámos o Céu, como se fosse a última visão dos nossos olhos. Em êxtase profundo, em silêncios, bafejados de beijos e abraços apertados como se de uma partida se tratasse. O teu corpo unido ao meu, sussurrava palavras de carinho, amor e desejo. Intervalando, com o calor daquele pôr-do-sol, que nos aquecia tanto, quanto a natureza permitia e o meu amor queria.
Recordarei para sempre, o meu sentir, naquele fim de tarde colorido, sofrido, sem razão aparente, para tanta dor. Algo me anunciava a partida e arrancava uma parte de mim. Só não sabia qual? Sentia!
As lágrimas soltaram-se como a incerteza quis, devagarinho e contidas, não queria transmitir o que estava a sentir. Estupidamente, achei que era só meu, aquele sofrimento. Havia doado de mim tudo, ao ser que amava. Agora, egoistamente queria aquele sofrimento só para mim.
Pediste-me carinhosamente que nos recolhêssemos, estávamos a esfriar. A sensação que me evadia, era que o meu corpo era um balão, que flutuava perdendo ar, a qualquer momento cairia no chão enrugado, como a pele de um idoso. Sentia-me sem forças para respirar fundo e enchê-lo de novo, para sentir a força daquele amor, no meu corpo. Nada, era tudo o que era capaz de sentir!
Senão e só aquele pôr-do-sol que me enfeitiçava.
Recolhemo-nos, coloquei um CD, uma música que fosse a antítese do meu sentir, da minha dor. Queria dançar e com isto, tentar exorcizar, ou quem sabe, tentar irritar-te pois sabia que detestavas Rock. Talvez estivesse na busca de uma catarse, algo que motivasse ou transformasse, todo aquele momento, do qual eu não sabia discernir.
Não entendia, o porquê de tanta dor no peito. Que sensação maligna e destruidora se apoderou do meu ser!
Comecei então a dançar, sozinha, com todo o sentimento que o Rock imprime aos corpos, movimentos soltos e agressivos, de quem tenta esmurrar algo que não tem pela frente. Queria cansar o corpo, assim, talvez acalmasse a mente e todo aquele sentir se esvaísse de mim.
Olhaste e sorriste! Como quem quer dizer algo, mas se detêm pelo olhar.
Sabia o quanto me desejavas e me achavas sensual, tentei oferecer-te aquele momento!
Que estranha sensação pensei:” será que estou a enlouquecer ou vou morrer?”
Não, era outra situação, que considero bem mais penosa do que enlouquecer ou morrer!
Quem enlouquece, perde a noção do adquirido, quem morre, só perde a vida!
O nosso Sol, escondeu-se e foi dando lugar a uma lua quase de Agosto, linda, num céu limpo e sereno, uma noite longa se adivinhava!
Acendeste a lareira, com uma certa habilidade, rapidamente ela nos iluminava e aquecia, não era necessária luz, vinda de outra fonte. Aquela luz oferecia-nos toda a claridade de que dois amantes precisam, onde só as mãos falam e os contornos dos corpos insinuam o belo que havia em nós.
Em frente à lareira, que crepitava ao nosso olhar, estendeste um edredão fofo e macio, colocaste uma garrafa de champanhe, dois copos, uns aperitivos, e os meus bombons preferidos. Ah e dois corpos, prontos a beberem e a amar. Perfeito cenário de um novo de loucura apaixonante. Tão perfeito que ainda hoje me sinto embriagada por ele, tão real quanto doloroso, tal como aquele Céu abstracto, mas quente e nosso!
Amámo-nos, como se o mundo tivesse hora marcada para acabar, e tivéssemos aquele tempo, sem tempo, para entregar tudo, parecia sempre uma nova entrega, um novo desbravar de mato desconhecido, sempre com a mesma sofreguidão, uma loucura de amar no tanto que se ama!
A minha sensação tomou outra forma, agora, era de uma entrega total e absoluta, como sempre!
Mas desta vez eu sentia-a mais forte, mais minha, mais interminável. Mas nem por isso afastei a estranheza sentida…Temia-a com todas as minhas forças!
Havia no ar algo de misterioso, uma inquietude, sem tom, mas com som, o nosso som de amar, um balbuciar de frases infindáveis, que iam ardendo em fogo de paixão.
Que loucura infinitamente boa!
Envolvida em beijos, abraços, vinho e cansaço, pronuncio: “Amo-te”.
E, eis que uma voz doce e meiga me abraça com uma força que não sei descrever. Mas que me atrevo a escrever, julguei ser a força do amor…Essa voz responde: “Obrigada”.
Gelei em frente a um formo crematório, de tal forma que tentei iludir os meus sentidos com um pensamento racional que me aliviasse a dor. “Ouvi mal!”
Não, não estava a ouvir mal, era simplesmente mal amada, ou melhor, não me sentia amada! Sentia-me usada, com todos os requintes que devem ser colocados na mesa de um Rainha. Agora entendia a razão daquele doloroso e miserável sentir!
Julguei estar embriagada, com uns goles de vinho que bebi. Mas, seria impossível. Não, não bebi o bastante para que perdesse o sentido de audição.
Não ouvi daquela boca, que eu tanto amava, a palavra que todos nós precisamos “Amo-te!”
Apaguei-me!
Tal como aquela lareira, se foi apagando, por não ser alimentada, também eu, me apaguei, pela ausência de uma só palavra, que me alimentasse no momento, para uma vida inteira. Morri naquela hora!
Agora sim, sabia o que o pôr-do-sol me transmitia!
Hoje, continuo morta, esperando acender a chama, nem que seja na hora de morrer de novo!
Posso dizer: ”Morre-se na mesma vida mais do que uma vez!”
Morri, mas não deixei de amar!
Será que estou viva?
Ou será que ainda estou a beber e a sonhar?!

*Lotus*

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